Disse Jesus: "Eu sou a luz do mundo: quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" LC 8:12

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Um diálogo entre a Música Popular Brasileira e a Bíblia

Mensagens da Semana

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    Há 9 anos

terça-feira, 12 de abril de 2011

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO – Ano A

Isaías 50,4-9a  – O sofrimento com causa e a confiança de salvação. 
Filipenses 2,5-11  – Aniquilou-se, humilhou-se até à morte na cruz.
Mateus 26,14-27 e 57 –  Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo.  

Neste Domingo de Ramos abre-se a Semana da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. A morte do Messias de Deus nos lembrará um Jesus paradoxal, ao mesmo tempo em que a Igreja de hoje ainda não seduzida e cooptada, quase tende a absolver Pilatos, símbolo dos que “cumprem o dever político” à risca, isentando-se, em seu julgamento, da prática da verdadeira justiça. Pilatos entra no Credo como quem não toma partido, aparentemente, mas certamente serve à justiça dos homens. Pretende calar os insurgentes contra a opressão
do poder político, econômico, a quem a religião está servindo. Oferece satisfação aos religiosos conformados, e do mesmo modo aos que se beneficiam da estrutura imposta (stablishment). 
O Messias de Israel morre a morte dos inconformados, mártires da justiça e da paz, enquanto os crentes do povo oscilavam no reconhecimento do “Deus fraco”, que não se mete com as forças que regem a sociedade injusta. Jesus não promove a redenção de seu povo por meio de sinais portentosos, ou milagres individuais, emocionais ou psicológicos (...nenhum sinal será dado a esta geração!). Jesus não ensinava sobre uma “vida santificada” ou apelava para um “reavivamento” espiritual das pessoas, para salvarem-se a si mesmas. Morre de um jeito não previsto, até ignóbil, enquanto sua vida é trocada pelo livramento de um ladrão de estradas. Assusta a identificação de Barrabás com crentes em busca de “livramento”, de “avivamento íntimo” às
custas de um Cristo crucificado “per me”, para eu escapar das penas eternas. Que cruz, que Cristo e que mundo me motiva? Alguém quer a cruz dos mártires, ou quer livrar-se dela? Podemos crer na alternativa que libera Barrabás e crucifica o Cristo de Deus apenas por motivos religiosos ou “espirituais”?
A liberação exemplar de Barrabás não é um equívoco, mas uma opção contra a reivindicação de Jesus. A crucificação de Jesus de Nazaré é o sinal “pare” apontado para todo e qualquer reformador da sociedade. Pronunciar o nome de Cristo, no entanto, torna-se uma banalidade espiritualista recorrente,
nos sermões e nas cátedras. Mas a teologia do sofrimento pelo martírio não se dá dessa maneira. Não estar disposto a morrer por uma causa, ou indignar-se; não querermos nos envolver com questões reais, humanas, do cotidiano, como parte da concepção religiosa sempre presente, denuncia o tipo de cristianismo preferível pelas multidões, sob manipulação constante de pregadores materialistas de propósito e sucesso pessoal. Um cristianismo anestesiado, sem dor, sem indignação, sem cruz, pragmático e sob oferta constante de resultados imediatos. Nesse caso, a mensagem de Jesus, sob sofrimento e martírio na cruz, passa a ser desprezível, pois o que se quer é a satisfação e a felicidade pessoal. A multidão quer um milagreiro, um mágico, um restidigitador, um médico comportamentalista, um guia esotérico conformista leitor do futuro para a felicidade pessoal.
É bom refletir. O exemplo clássico diz que Deus “consente” o sofrimento no mundo e não fala sobre sua origem. No entanto, falamos sobre as escolhas humanas. Temos responsabilidades. Pior ainda, se atribuímos ou apontamos o mal em poderes terceirizados, demônios, espíritos, forças do mal; forças dos astros e das estrelas; das orações de  poder; de mapas astrais, amuletos, relíquias religiosas. As escolhas na verdade são nossas. Não nos redimem. Não explicam nada da nossa realidade. Ao contrário. A superstição e as crendices, antigas ou modernas, fazem sofrer ainda mais. A presença do sofrimento face às desigualdades e injustiças é uma constante, como açoite na consciência que intensifica a dor moral. É adversário do anseio de liberdade e de justiça dos homens e das mulheres. 
Consequentemente, o sofrimento força os cristãos a uma dupla tarefa: enfrentar sua crueza imediata e, além disso, se convertido em angustiante problema humano, racionalizá-lo em busca de explicação, para suprimi-lo.
Quem merece sofrer? Finalmente, o sofrimento exige decisão. Qualquer que seja o modo possível, é preciso buscar a superação de tudo que o representa.
A inteligência da fé é chamada ao palco da tragédia humana para sanar as dores e sofrimentos humanos. A salvação do mundo sem sofrimento, sem cruz, não é uma mensagem evangélica. A fé cristã não é uma propaganda do “mercado da felicidade”, mas a denúncia dos significados dessa propaganda. Devemos considerar o caminho da cruz, percorrido nesta Quaresma que findou.

Mateus 26,14-27 e 66 – A idéia de Messias e dos tempos messiânicos estava fundamentada na esperança de que Deus cumpriria plenamente as promessas feitas ao povo escolhido, à nação que ele havia designado como sua herança. A chegada do Messias, enviado, ungido, servo de Deus para a instaurar do Reinado de Deus na história e no tempo, e é ali onde, segundo a concepção judaica, Israel se vingaria dos pagãos, dos não-judeus, que extinguiram a monarquia israelita desde o século VI a.C., diante do exílio babilônico. 
A idéia messiânica do Antigo Testamento está baseada na força político-militar de um enviado do Deus de Israel para dominar todas as nações da terra e transformar Israel numa nação forte e poderosa, capaz de comandar e submeter todos os povos que não têm Yahweh por seu Deus. Evidentemente, não era uma ideia religiosa comum no  tempo de Jesus, mas parte de uma esperança política que permanecia, depois das dominações: babilônica, persa, grega e agora romana. Para eles, Israel seria restaurado como nação e
sobrepujaria todas as outras. De modo diferente dos evangelhos restantes, Mateus evita o reconhecimento triunfalista de Jesus no consagrado Domingo de Ramos. Ao contrário, o sofrimento e a renúncia destacam-se nessa passagem. Ao invés da acolhida popular ao Messias, o que se observa é a contradição inesperada: o Messias sofre, chora, suplica por evitar-se a humilhação e o escândalo da cruz. Um rosto diferente para o semeador do Reino. O tempo de Jesus “está próximo”, a realização do “dia de Yahweh” vai acontecer, com morte e crucificação, como anunciado pelos profetas. Estes observavam a inevitabilidade do martírio. O Cristo, Servo Sofredor na tipologia do Dêutero Isaias, representará para as comunidades uma glória incongruente, pois o senhor da história precisa morrer para ser reconhecido. O mesmo povo que recebe Jesus como o Messias político no Domingo de Ramos vai gritar na sexta-feira: crucifica-o, ele é um farsante! 
Passar pelo sofrimento como sendo parte do caminhar com Deus para a transformação do mundo violento, através de Jesus, é uma maneira de ver as coisas que correspondem à renúncia dos profetas de se viver uma vida normal, sem perigos a enfrentar, sem confrontos com os poderes e o pensamento reinantes. Mas é esta disposição que Jesus vem evidenciar, mais uma vez: é essencial o reconhecimento de que nele está ocorrendo uma “missão divina”. O reconhecimento de ser ele, Jesus, inclusive, um “homem que ainda está por vir” para completar sua obra, depois  da morte e da ressurreição. Jesus é completa e inevitavelmente submisso à vontade celestial, enquanto consciente da necessidade de renúncia à vida dos comuns, em dependência absoluta de Deus (W.G.Kümmel). Não depende do que a multidão religiosa espera de um “cristo” que a servirá material e emocionalmente. Os dias de Jesus foram os dias do “renascimento dos túmulos”. 
Muitos, contrários ao quietismo religioso conformista, construíram túmulos memoriais dos profetas de Israel em expiação da tortura, da abdusão, dos assassinatos políticos que sofreram. Os ditos sapienciais, por sua vez, consideravam a história da salvação como uma cadeia ininterrupta de mártires dos justos e dos mensageiros de Deus (J.Jeremias). Estes são os fatos fundamentais da Paixão, reconhecendo que o sangue dos mártires rega a história da luta contra as opressões sobre a humanidade em todos os tempos.

Derval Dasilio
Pastor da Igreja Presbiteriana Unida
Livro recente: O Dragão Que Habita Em Nós 
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/busca/busca.asp?nautor=1486956&refino=1&p=1   

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