Nesta semana visitei pessoas e também meu ser foi
visitado por elas. Vi sofrimento quase sem fim, mas vi no sofrimento um coração
sereno que não interpelava sobre a sua condição, só vivia. Foi uma das visitas
mais marcantes que fiz aqui em Caetité. Lembrei-me da cura do paralítico de
Cafarnaum feita por Jesus, que na impossibilidade de chegar até onde Jesus
estava, por vias normais, introduziram-no pelo telhado. Só chegou a Jesus pela
solidariedade dos outros, dos que o levaram (Lc 5,19).
Essa pessoa encontrou
Jesus que transformou a sua vida. O natal não é somente momento de visitas
convencionais, é sim, visitas na sua profundidade onde as vidas se cruzam e
assim, percebe-se, enxerga o invisível que se esconde na alma do outro, nas
profundezas da realidade humana. O anjo visitou Maria onde ela estava e pede
licença para nela se encarnar, para não ser uma invasão de privacidade. A
visita à Maria proporcionou um encontro definitivo entre Deus e a humanidade,
que é traduzido para o nosso tempo como tempo de ternura, de esperança e de
desafios.
Na visita do anjo o verbo se dá e se faz entender. Parafraseando a
gramática, este verbo divino é um “Verbo de ligação”, que nos coloca
cara-a-cara com Deus, na perspectiva de que mergulhemos no seu mistério, e
assim, vivenciemos o encontro que nada mais nos separará. A dinâmica do
encontro me faz assumir algo que é do outro. Deus assumiu a condição humana,
fazendo seu Filho nascer entre nós. Maria, José, Isabel e Zacarias assumiram
aquilo que era de Deus: o projeto de Salvação plena e definitiva.
Um coração
manso e humilde é capaz de se aproximar da dor dos miseráveis e acolher esta
realidade também para si. Nelson Mandela, na politica, assumiu para si os 27
anos de prisão para ver o seu povo negro ser reconhecido como gente e ter
convivência pacifica com os brancos. O Pastor Martin Luther King, assumiu para
si o martírio com a finalidade de aproximação entre os seres humanos. Por isso,
meus irmãos e irmãs, façamos novas visitas e assumamos novos encontros que
ultrapassem os limites de nossa razão e alcancem as profundezas da nossa
compaixão e coração.
Rev. Luiz Pereira
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