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terça-feira, 18 de março de 2014

Linguagem inclusiva: um compromisso, uma atitude, uma consciência política



Esta eu ouvi de uma amiga. Ela estava em uma reunião de mulheres da igreja quando chegou o pastor local para fazer a saudação. Embora a maioria fosse mulheres – aliás, de homem só ele e mais dois presbíteros –ele iniciou assim:
- “Meus irmãos, damos as boas vindas a vocês neste encontro”. Prosseguiu, então, com a sua fala.
 No final, ele disse: “Convido os irmãos a ficarem de pé para fazermos uma oração”.
 A amiga não aguentou e disse:
“Então nós mulheres estamos dispensadas de ficar de pé, vamos permanecer sentadas”.
Este fato, que certamente causou espanto e mal-estar, é bem mais frequente do que imaginamos.
Lembro que,no início da minha atuação pastoral,algumas vezes fui questionada porque usava, na liturgia,“ela/ele”, “todos e todas”. Alguém disse que era muito cansativo. Mas eu insistia em usar uma linguagem inclusiva por entender que a linguagem, seja escrita ou falada, é uma forma de expressar a nossa consciência e visão de mundo; através dela também construímos a nossa realidade.
A linguagem inclusiva nem sempre é utilizada em nossas comunidades e tampouco aparece nos documentos oficiais da Igreja. Nos últimos tempos, até que temos dado mais atenção a esse aspecto, mas ainda recebo comunicações e convites sem linguagem inclusiva. Ainda ouço sermões em que pastores esquecem que a maioria das pessoas que estão sentadas nos bancos da igreja é do sexo feminino, já que insistem em usar apenas formas no masculino. Como se o “masculino representasse” toda a humanidade. O censo mundial de 2010 revelou que, de um total de 6.895.889.000 de pessoas no mundo, 3.477.830.000 são homens e 3.418.059.000 são mulheres. Então, quando não usamos a linguagem inclusiva, estamos, no mínimo, ignorando metade da população mundial.
O não uso da linguagem inclusiva aponta para os processos históricos de exclusão das mulheres. Trata-se de uma linguagem sexista, pois ignora as mulheres e subordina o gênero feminino ao masculino, tornando as mulheres invisíveis. Mesmo quando elas são maioria num evento, usam-se, muitas vezes, exclusivamente formas do masculino para identificar o público, tais como:“eles”,“todos”, “irmãos”, “os homens” e assim por diante.
Mas não se trata apenas de usar uma linguagem inclusiva.  Como afirma a teóloga luterana Marga Ströher:
“Mudar a linguagem não transforma, automaticamente, a consciência e a mentalidade. A transformação não deve ser apenas formal, ou seja, no uso de uma linguagem integradora ou inclusiva, enquanto que a realidade de opressão continua sendo mantida. Mas a transformação da realidade também inclui uma nova linguagem. Uma nova linguagem não significa apenas feminizar a linguagem. A conotação sexista de uma palavra ou linguagem não está no fato de ela ser masculina, mas na ideologia sexista que ela carrega, na mensagem sexista que ela grava na consciência”. [1]
Por isto precisamos estender a nossa linguagem inclusiva para todas as dimensões do nosso fazer teológico: a litúrgica, a catequética e a diaconal.  Comecemos nos perguntando qual a imagem de Deus que estamos passando. O nosso falar sobre Deus está assentado em nossos conceitos antropológicos, e esses conceitos estão carregados de imagens masculinas. Deus é Pai, é o Todo Poderoso, é o Senhor dos Exércitos, é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. São imagens aprendidas e mantidas pela tradição patriarcal.  É possível falar em outras imagens de Deus? Não apenas com a intenção de fazer um contraponto ao masculino, mas para mostrar que Deus pode ter outras faces.  A teóloga Claudete Ulrich nos convida a resgatar a tradição bíblica de Êxodo 3,onde Deus se apresenta como “Eu sou o que sou”, um Deus que ouve os gritos e as dores do seu povo e desce para libertá-lo e não se apresenta como um senhor distante dos problemas cotidianos”[2].  “Eu sou o que sou” é o Deus da dinâmica, do movimento, o Deus da Ruach, o seja, do Espírito feminino,não o Deus parado, fixo e enclausurado em conceitos antropológicos. 
O nosso grande pedagogo brasileiro, Paulo Freire, disse, no livro Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido, de 1992, disse: “A recusa à ideologia machista, que implica necessariamente a recriação da linguagem, faz parte do sonho possível em favor da mudança do mundo”.  Sonhamos, trabalhamos e queremos contribuir para que estas mudanças promovam a participação igualitária de homens e mulheres, não só no âmbito da igreja, mas em todas as áreas do conhecimento e todas as instâncias de decisão.
Que a Ruach sopre e nos inspire a promover mudanças na linguagem, na liturgia, nos símbolos e nas imagens da nossa igreja, afim de que elas possamos ter comunidades acolhedoras que promovam a inclusão de todos e todas na vivência comunitária.

Revda. Sônia Gomes Mota


[1]Marga Janete Ströher. Por uma Linguagem Integradora de Mulheres e Homens.
[2]Claudete Ulrich.Linguagem inclusiva: somos irmãs e irmãos em Cristo!

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