Jesus buscava todas as pessoas, mas, em especial, as desprezadas e marginalizadas da sociedade, entre as quais também se encontravam as mulheres. Na sociedade patriarcal da época, as mulheres eram consideradas, desde o seu nascimento, propriedade dos homens: do pai, do marido, do cunhado solteiro, se viúva sem filhos, ou do filho, quando viúva e idosa. Mulheres estéreis eram duplamente desprezadas.
Apesar de serem responsáveis pela educação das crianças e a maior parte do trabalho em casa e no campo, as mulheres tinham poucos direitos. Somente podiam mostrar-se em público com o rosto coberto por um véu. No templo e na sinagoga, sempre permaneciam atrás dos homens ou em lugares separados. Não contavam nas estatísticas daquele tempo: “os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças” (Mt 14.21).
Jesus posiciona-se contra essa sociedade opressora e hipócrita. Anuncia o Reino de Deus que não admite exclusões. Objetiva uma comunidade de iguais e uma família baseada em relações de afetividade e de serviço mútuos. Nos evangelhos há muitas histórias de mulheres ativas e sábias no ministério e no movimento de Jesus. Eis algumas:
Maria: mãe e discípula
Maria carrega em seu ventre a criança anunciada e esperada; canta de alegria (Lc 1.26-2.21); acompanha o seu filho desde pequeno (Lc 2.41-52). Encoraja Jesus a realizar o primeiro milagre (Jo 2.1-12), dando início ao seu ministério público. Está presente nos momentos de sofrimento e cruz de seu filho (Jo 19.25) e é uma discípula ativa no início da Igreja de Jerusalém (At 1.14).
Maria e Marta: discípula e diácona
Maria e Marta recebem em sua casa a visita de Jesus (Lc 10.38-42). Maria senta-se aos seus pés para ouvir a palavra, numa atitude típica de discípulo. Jesus rompe como a norma dos rabinos que dizia ser preferível queimar a Lei a ensiná-la a uma mulher.
Marta serve como diácona. Confessa a sua fé de forma decidida: “Eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo” (Jo 11.27). Essa é a confissão central do movimento de Jesus.
Maria de Betânia: unge Jesus
Num gesto profético, Maria de Betânia unge Jesus com óleo precioso, preparando-o para a sua paixão (Mc 14.3-9; Mt 26.6-13; Jo 12.1-8). Jesus diz: “onde for pregado o Evangelho também será contado o que ela fez, para memória sua” (Mc 14.9).
Mulher samaritana: discute teologia e reconhece o Messias
Não sabemos o nome da mulher samaritana com a qual Jesus se encontra no poço de Jacó (Jo 4.1-30). Apesar de discriminada por ser samaritana, ela dialoga teologicamente com Jesus e o reconhece como Messias, tornando-se sua principal testemunha na região da Samaria.
Viúva cananéia: dignidade e vida
Uma viúva cananéia perde o seu filho (Lc 7.11-17). Sem nenhum amparo, estaria condenada a viver de esmola. Jesus comove-se diante do seu sofrimento e lhe restitui o filho e, com ele, a dignidade e o sentido de vida.
Mulher sírio-fenícia: argumenta e consegue um milagre de Jesus
Uma muher sírio-fenícia se aproxima de Jesus e pede-lhe que cure sua filha doente (Mc 7.24-30). Inesperadamente, Jesus reage de forma um tanto grosseira; mas a mulher não desiste. Busca argumentos para alcançar o seu objetivo. Não se importa em ser comparada a cachorros; permanece firme e consegue de Jesus o milagre da cura.
Mulheres junto à cruz: testemunhas da paixão e ressurreição
Na hora da crucificação de Jesus, os discípulos fogem. Mas muitas mulheres permanecem e testemunham a morte de Jesus (Mt 27.55-56; Mc 15.40-41; Jo 19.25-27). São também elas que no domingo vão embalsamar o corpo de Jesus e encontram o túmulo vazio (Mt 28.1-8, Lc 24.1-10, Jo 20.1-10).
Maria Madalena: apóstola dos apóstolos
Maria Madalena tem posição de destaque entre os discípulos de Jesus, por ter sido a primeira testemunha da ressurreição. Ela é, portanto, a “apóstola dos apóstolos” (Jo 20.11-18).
Essas mulheres também vivenciaram a ressurreição como proximidade viva e corporal de Jesus, recebendo poder para dar continuidade à sua missão. Assim, o movimento e o ministério de Jesus, o Cristo, continuam presentes entre nós na certeza de que um outro mundo é possível.
Pa. Me. Sonia Gomes Mota - Kassel
Pa. Dra. Claudete Beise Ulrich – Wunstorf
Texto cedido pelas autoras já publicado pela Revista Novo Olhar da editora Sinodal..
Bibliografia:
OSDOL, Judith Van (Orgs). As mulheres e a graça: Releituras bíblicas de mulheres latino-americanas. São Leopoldo: Sindodal; Quito: Clai, 2008.
REIMER, Ivoni Richter. O belo, a fera e os novos tempos. São Leopoldo: Cebi; Petropólis: Vozes, 2000.
SCHOTTROF, Luise. Mulheres no Novo Testamento: exegese numa perspectiva feminista. São Paulo: Paulinas, 1995.
TAMEZ, Elsa. As mulheres no movimento de Jesus, o Cristo. Trad. Beatriz Affonso Neves. São Leopoldo: Clai/Sinodal, 2004.
ULRICH, Carlos Luiz; ULRICH, Claudete Beise. Dia de Maria Madalena – 20.1-2,11-18. In: SCHNEIDER, Nélio; WITT, Osmar (Orgs.). Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 230-239.
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